REPÚBLICA DOS CAMARÕES
Camarões é um país
africano, limitado a oeste e a norte pela Nigéria, a leste pelo Chade e pela
República Centro-Africana, a sul pelo Congo, pelo Gabão e por Rio Muni (Guiné
Equatorial) e a oeste pelo Golfo da Guiné, através do qual faz fronteira com a
Guiné Equatorial, via a ilha de Bioko. A capital é Yaoundé.
Os navegadores portugueses
- notadamente Fernão do Pó - chegaram à costa dos Camarões em 1472. Notaram a
abundância de camarões (Lepidophthalmus turneranus) nos mangues do rio Wouri e
o denominaram Rio dos Camarões, de onde deriva o nome actual do país.
Apesar da chegada dos
portugueses à costa dos Camarões no século XV, a malária impediu os europeus de
se instalarem e conquistarem os territórios do interior até ao fim da década de
1870, quando grandes quantidades de quinino se tornaram disponíveis. No início,
os europeus estavam sobretudo interessados em comerciar, o que faziam na zona
costeira, e adquirir escravos. O comércio de escravos foi reprimido a meio do
século XIX, ainda na parte final desse século instalaram-se nos Camarões
missões cristãs, as quais continuam a desempenhar um papel na vida do país.
No dia 5 de julho de 1884
a totalidade do território camaronês e alguns territórios vizinhos tornaram-se
a colónia alemã de Kamerun, com a capital situada primeiramente em Buéa e
depois em Yaoundé. Após o final da Primeira Guerra Mundial, o Reino Unido e a
França dividiram essa colônia, cabendo à França a maior área, sendo as zonas
mais distantes transferidas para o domínio de outras colônias francesas, e
governando o restante a partir de Yaoundé.
Os Camarões franceses
alcançaram a independência em 1960 sob a denominação de República dos Camarões,
no território conhecido como Camarões do Norte e Camarões do Sul. No ano seguinte,
a maioria muçulmana do norte, que dominava dois terços dos Camarões britânicos,
votou pela adesão à Nigéria, enquanto que no sul a maioria cristã, votou de
forma que o outro terço dos Camarões britânicos aderisse à República dos
Camarões, formando a República Federal dos Camarões. Permanece no entanto em
aberto o conflito da Ambazónia (Camarões do Sul).
MISSÃO XAVERIANA NOS
CAMARÕES-CHADE
Adriano Cunha Lima, sx
Queridos
irmãos e irmãs é com alegria que partilho com vocês um pouquinho da vida dos
xaverianos nestas terras africanas. Fazem somente três anos que estou na
capital dos Camarões, Yaoundé, e durante dois meses tive a grande oportunidade de conhecer o
Chade. Assim sendo eu lhes preparo para uma partilha pessoal, resultado das
minhas experiências. Um outro teria a liberdade de ver uma ou outra coisa
diferentemente.
Às
vezes pensamos que África é um país. Ora, a África é um continente como a
América. E os Camarões é diferente do Chade como o Brasil é diferente do
Paraguai. Neste grande e diverso continente africano os xaverianos estão em 6
países : Congo (RDC), Burundi, Serra Leoa, Moçambique, Camarões et Chade. Se
os xaverianos no Brasil dividiram a missão em duas regiões, nós aqui juntamos
dois países para formar uma única região : os Camarões e o Chade (aqui diríamos
le Cameroun et le Tchad). Falar destes dois países tão diferentes em poucas linhas
me parece difícil. Prefiro então, deixar o Chade para uma proxima vez.
Os
Camarões tem uma população de 19, 4 milhões e uma superfície de 475 440 Km2
(para imaginar, nós podemos pensar no Estado de Minas Gerais, tanto
quanto ao tamanho que quanto à população). Este país conta com 260 grupos
étnicos, cada um com sua língua própria. Esta variedade da população acompanha
a grande diversidade natural deste país que lhe dá o direito de ser conhecido
como a « África em miniatura ». O francês e o inglês são as duas
línguas oficiais. No dia 1° de janeiro de 2010 nós celebramos 50 anos de sua
independência da França. O presidente atual é Paul Biya, cargo que ele ocupa
depois de 1982. A democracia me parece extremamente frágil. Os cristãos formam
mais de 50% da população, os mulçumanos 24,8%, o restante esta ligado às
religiões tradicionais. A esperança média de vida é de 51, 7 anos.
Os
xaverianos chegaram nos Camarões em 1986. Hoje em dia estamos presentes em 6
comunidades em 4 cidades diferentes. Uma paróquia e a comunidade de filosofia
em Bafoussam ; uma paróquia e um centro missionário na cidade de Douala
(capital econômica do país) ; uma paróquia e um centro cultural em Yagoua
(extremo norte do país) ; e uma paróquia e nossa comunidade de teologia na
periferia de Yaoundé (capital do país). Todas as nossas missões estão em zonas
onde se fala o francês. É aqui em Yaoundé também a sede da revista do Centro de
Estudos Africanos (Centre d’Études Africaines) que começa a produzir seus
primeiros números.
Nossos
trabalhos nestas comunidades são diferentes de acordo com o meio e as
orientações das dioceses. Um grande ponto em comum das nossas paróquias é a
existência das comunidades eclesiais de base, chamadas aqui de comunidades
eclesiais vivantes. Em Douala a animação missionaria começa a dar frutos. O
primeiro é a existência de um grupo de amigos dos missionários xaverianos que
já caminha bem. Em Yaoundé um outro « GAMIX » parece querer surgir. Desta
terra ja partiram missionários xaverianos para o mundo : Colômbia, México,
Itália, Filipinas, Burundi, Chade e aqui mesmo nos Camarões. Sem falar que no
próximo ano escolar nós teremos representantes dos Camarões nas nossas quatro
teologias internacionais. Mesmo querendo deixar o Chade para uma próxima
vez é importante dizer que o primeiro xaveriano chadiano estará à partir de
outubro deste ano começando o ultimo ano dos estudos de teologia aqui em
Yaoundé. Que Deus lhe dê perseverança !
A
minha grande alegria em estar aqui foi a possibilidade de conhecer tanta gente
boa. É bonito descobrir que temos irmãos tão distantes da gente e que formam
uma só família ao lado do Pai. Encontrei um povo ativo na vida da Igreja, que
gosta de se formar. Descobri que a África que imaginamos no Brasil não
corresponde nem à 10% daquilo que vemos aqui. E aquelas imagens feias que vemos
na televisão se contrastam com o sorriso de um povo que gosta da vida. Os
jovens são muito disciplinados para os estudos. Existe uma grande variedade na
comida e graças à boa acolhida das família eu pude provar uma grande parte. Se
de um lado as cores e os tambores nos fazem ver a África tradicional ainda presente,
os celulares, gravatas e computadores nos mostram sua proximidade com o mundo
globalizado.
Não
quero dizer com isso que a vida seja fácil. Este país tem problemas sérios à
resolver. Uma grande melhora no sistema de saúde seria necessário. Aqui tudo se
paga, resultado… nem todos tem o verdadeiro direito à saúde. As condições de
saneamento não são das melhores. Água e eletricidade faltam sempre e são caras…
Coisas que muitos brasileiros conhecem perfeitamente. Talvez o grande problema
é a falta de vontade política que abre um grande espaço para a corrupção que se
estende à todos os setores da sociedade. Penso ainda mais nos jovens que, como
os nossos do Brasil, procuram intensamente uma vida melhor. Muitos aqui com
mestrados e doutorados estão nas filas de emprego.
Estes
problemas não são acolhidos como uma fatalidade, mas como desafios que devemos
enfrentar. Como resultado do último sínodo sobre a África o papa Bento XVI
pediu que a Igreja, aqui presente, seja sinal de reconciliação, de justiça e de
paz. No seu documento (África e Munus) o papa diz que a África « é o
pulmão espiritual por uma humanidade em crise de fé e de esperança ».
Estudando a teologia aqui acredito que os cristãos africanos tem muito à dar
para nossa Igreja universal. E nossos cristãos do Brasil poderiam partilhar
muito mais da nossa fé, também tão viva, com nossos irmãos do outro lado do
Oceano Atlântico. Já escrevi bastante, foi só um tira gosto. Fica com vocês um
grande e forte abraço dos xaverianos aqui dos Camarões, principalmente dos três
brasileiros que aqui estão: Pe Herondi, Rafael e eu.
Adriano Cunha Lima, sx