terça-feira, 5 de junho de 2012

MISSÃO EM MOÇAMBIQUE: ÁFRICA



Capital: Maputo
Superfície: 799.380 km2 (do tam. do Goiás e Tocantins)
População: 18,6 milhões de habitantes
Línguas: português, línguas regionais
Expectativa de vida: 38 anos
Adultos alfabetizados: 43,8%
Renda per capita: 220 dólares por ano
Religiões: regliões tradicionais 50,4%; cristianismo 38,4%; islamismo 10,5%; outras 0,7%





MISSÃO COM PAIXÃO

Por Pe. João Bortoloci

IMPELIDOS PELO AMOR DE CRISTO

O amor de Cristo nos impeliu a uma realidade nova, uma nova missão: Moçambique. Os missionários xaverianos sonharam; a Igreja em Moçambique desafiou e Deus fez acontecer. Desde o dia 2 de março de 1998, nós, missionários xaverianos, estamos pisando neste chão bendito onde São Francisco Xavier também pisou. Chão de dores e gritos de escravidão (1594-1975); chão de mortes, sangue derramado e dispersão do povo pela guerra civil (1975-1992); chão de sofrimentos pela fome, pobreza, doenças, analfabetismo e pela falta de infra-estruturas básicas de vida; chão marcado pelos destroços da guerra, pelas minas-bombas e pela destruição dos valores humanos e falta de perspectivas de futuro. Porém, é também um chão onde foi lançada a semente da paz e um chão aberto para se lançar a semente do Evangelho, do amor e da justiça. É hora de reconstruir; é hora de sonhar e semear esperança.

IR PARA O OUTRO LADO DO MAR

No outro lado do mar, antes de iniciar a missão, é preciso sentar-se um pouco para conhecer a realidade local, a cultura do povo, línguas, costumes, a caminhada feita pela Igreja etc. Enfim, ter uma base para iniciar o trabalho. Comparo este tempo com a história da águia: ela é a ave que mais vive, podendo chegar aos 70 anos. Porém, para que isto aconteça, quando chega mais ou menos aos 30, ela se retira para a montanha e passa aí um tempo de, mais ou menos, 150 dias. Durante esse período, ela faz três coisas importantes: primeiro, arranca seu velho bico, esfregando-o nas pedras para que nasça um novo. Depois, já com o bico novo, arranca as velhas unhas e também as penas, para que nasçam novas.

 Pe. João Bortoloci em comunidade africana

Durante o tempo do seu processo de renascimento as outras águias trazem-lhe alimento. Assim deve acontecer com os missionários diante da nova missão. Precisamos nos libertar de nossa “linguagem”, de raízes culturais, costumes e de tantas outras coisas de nossa realidade, que impedem nosso renascimento e abertura para o novo que vem do outro. Como a águia, que se transforma para ter mais vida, é alimentada por outras águias, assim o missionário precisa, sobretudo, comer e beber da cultura, da vida do povo onde vai servir. Isto se chama de processo de inculturação. Processo lento, mas fundamental, para o trabalho de evangelização.

“VÃO E ANUNCIEM”

Iniciamos a nossa missão em Moçambique com 4 missionários xaverianos sendo eu um deles. Atualmente são 9 missionários xaverianos atuando em quatro comunidades: Dondo, Chemba, Sena e Charre num vasto território na arquidiocese da  Beira e Tete, onde mais ou menos 10% da população são católicos. Muitas são as necessidades, sobretudo nos campos da educação, da saúde, da reconstrução das estruturas básicas, nas quais colaboramos. Nosso trabalho específico, porém, é a Evangelização.

Algumas  prioridades fundamentais:

  Pe. João Bortoloci em comunidade africana

1 – Primeiro anúncio: Gastamos nossa vida em uma localidade onde poucos, ou quase ninguém, investem. É uma realidade de não-cristãos e de pobreza. Moçambique encontra-se entre os oito países mais pobres do mundo. Somos felizes por estar no meio desta gente e, sobretudo, ao ver que nosso trabalho evangelizador não é em vão: milhares de pessoas, entre adolescentes, jovens e adultos, entraram e continuam entrando no catecumenato, em preparação ao batismo. A catequese é um processo de aprendizagem e de vivência que dura 4 anos.

2 – As novas comunidades: Depois de um acompanhamento no catecumenato, procuramos animar as comunidades já existentes, da mesma forma como somos animados pela fé, acolhida, alegria e pelo compromisso missionário. Muitas são também as comunidades nascentes, algumas até sem a presença de nenhum cristão. Ainda não chegamos em muitas localidades, devido à distância e falta de estradas. Porém, nada é empecilho. Nas comunidades, há o ministério missionário Nyakokota (pescador), com o objetivo de não deixar ninguém sem ouvir a Palavra de Deus. Há também a experiência das comunidades missionárias, que fundam ou acompanham comunidades nascentes. Gostaríamos de frisar que a resistência na fé, vivida e celebrada em meio a tantos sofrimentos, por tantos cristãos moçambicanos, nos tempos de guerra, hoje é semente de novos cristãos e novas comunidades cristãs.

3 – Lideranças: Em Moçambique, a Igreja está estruturada em paróquias ou “Missões”, descentralizadas em comunidades e, em alguns lugares, em núcleos. Os ministérios leigos são uma benção de Deus para as comunidades. O grande desafio é a formação de tantas lideranças. Só no campo da catequese é preciso  “fazer das tripas o coração” para colaborar na formação dos catequistas e dar certo acompanhamento aos catecúmenos. Na missão onde eu trabalhei por 10 anos , quando saí havia mais de 200 catequistas e milhares de catecúmenos. Reunir todos os envolvidos nos vários ministérios era quase impossível. São programados muitos encontros de formação como exigência fundamental para a vida das comunidades.

A IGREJA LOCAL

É uma Igreja pobre, dependente economicamente do exterior e em reconstrução de suas estruturas básicas, pois boa parte delas ainda está nacionalizada. Esteve sempre ao lado do povo, sobretudo nos momentos difíceis da guerra, em que teve significativo papel para a mediação da paz.
É uma Igreja pobre em poder, porém se impõe com voz profética em defesa dos direitos humanos e na conscientização do povo. Apesar da sua pobreza, assumiu gestos bonitos de solidariedade, especialmente durante as catástrofes. É uma Igreja que aposta na educação e que vive um momento florescente de despertar vocacional. Como xaverianos, colaboramos diretamente na formação do clero local.
Vocações xaverianas poderão ser pensadas no futuro. É uma Igreja com mais de 30 etnias,cada uma com a sua língua,  e com a presença de muitas religiões. Só na paróquia Santa Ana na cidade de Dondo onde trabalhei havia a presença de  122 religiões. Enfim, é uma Igreja que começa a se abrir para a dimensão missionária. O Sínodo Africano afirmou: “A Igreja da África não é chamada a testemunhar Jesus Cristo somente no continente africano: a ela também é dirigida a palavra de Cristo Ressuscitado: ‘Sereis minhas testemunhas até os confins da terra’” (At. 1,8 v. 125).

É PRECISO RENASCER

Depois de 10 anos em Moçambique, “RENASCER” se apresenta para mim como um grande desafio.

Por isso, é preciso entrar:

 Pe. João Bortoloci em Igreja africana

– no Ventre da Solidariedade, pois a missão precisa de missionários capazes de compaixão pelo outro, pelos empobrecidos, sendo sinal de esperança e de vida;

– no Ventre da Espiritualidade, pois a missão precisa de missionários comunicadores de Deus, capazes de contemplar o rosto de Cristo no rosto sofrido do povo, testemunhando a presença de um Deus que ama; 

– no Ventre do Diálogo, pois a missão precisa de missionários capazes de viver a comunhão na diversidade de povos, raças, culturas e religiões, testemunhando fraternidade e paz;

– no Ventre da Ousadia, pois a missão precisa de missionários profetas, resistentes, capazes de sonhar que um mundo novo é possível, a partir da própria realidade onde se vive. Que naquele poço há “água viva”;

– no Ventre da Paixão, pois a missão precisa de missionários apaixonados pela causa da Evangelização, capazes de doarem a própria vida, para que todos os povos possam conhecer e viver com prazer o projeto do Reino de Deus.


Vídeo 1 - Relato em Comunidade de Moçambique


Vídeo 2 - Relato em Comunidade de Moçambique



Galeria - Fotos de Moçambique



2 comentários:

  1. Padre João: tenho grande orgulho em conhecê-lo e em poder partilhar um pouquinho do seu carisma que anima e conduz... Parabéns pelo maravilhoso trabalho que fez na África!!!!

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  2. O relato-testemunho do João é simplesmente significativo, carregado de realismo, profundidade, afetividade, profetismo e poesia... muito interessante mesmo! É aquilo que o nosso profeta-poeta Paulo Freire chama de "boniteza".
    A presença xaveriana no Moçambique tem sido uma grande benção para a Igreja local, sobretudo pela proposta que o João tão bem apresentou: respeito à caminhada e história do povo moçambicano, solidariedade à toda prova à Igreja local e suporte à evangelização que tem nos ministérios leigos uma grande força.
    O chamamento à comparação com a história da águia é muito bonita. Parabéns João, o teu testemunho profético nos faz reviver o nosso compromisso batismal que é também missionário!
    Luiz carlos Frederick

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