Capital: Maputo
Superfície: 799.380 km2
(do tam. do Goiás e Tocantins)
População: 18,6 milhões de
habitantes
Línguas: português,
línguas regionais
Expectativa de vida: 38
anos
Adultos alfabetizados:
43,8%
Renda per capita: 220
dólares por ano
Religiões: regliões
tradicionais 50,4%; cristianismo 38,4%; islamismo 10,5%; outras 0,7%
MISSÃO COM PAIXÃO
Por Pe. João Bortoloci
O
amor de Cristo nos impeliu a uma realidade nova, uma nova missão: Moçambique.
Os missionários xaverianos sonharam; a Igreja em Moçambique desafiou e Deus fez
acontecer. Desde o dia 2 de março de 1998, nós, missionários xaverianos,
estamos pisando neste chão bendito onde São Francisco Xavier também pisou. Chão
de dores e gritos de escravidão (1594-1975); chão de mortes, sangue derramado e
dispersão do povo pela guerra civil (1975-1992); chão de sofrimentos pela fome,
pobreza, doenças, analfabetismo e pela falta de infra-estruturas básicas de
vida; chão marcado pelos destroços da guerra, pelas minas-bombas e pela
destruição dos valores humanos e falta de perspectivas de futuro. Porém, é
também um chão onde foi lançada a semente da paz e um chão aberto para se
lançar a semente do Evangelho, do amor e da justiça. É hora de reconstruir; é
hora de sonhar e semear esperança.
No
outro lado do mar, antes de iniciar a missão, é preciso sentar-se um pouco para
conhecer a realidade local, a cultura do povo, línguas, costumes, a caminhada
feita pela Igreja etc. Enfim, ter uma base para iniciar o trabalho. Comparo
este tempo com a história da águia: ela é a ave que mais vive, podendo chegar
aos 70 anos. Porém, para que isto aconteça, quando chega mais ou menos aos 30,
ela se retira para a montanha e passa aí um tempo de, mais ou menos, 150 dias.
Durante esse período, ela faz três coisas importantes: primeiro, arranca seu
velho bico, esfregando-o nas pedras para que nasça um novo. Depois, já com o
bico novo, arranca as velhas unhas e também as penas, para que nasçam novas.
Pe. João Bortoloci em comunidade africana
Durante
o tempo do seu processo de renascimento as outras águias trazem-lhe alimento.
Assim deve acontecer com os missionários diante da nova missão. Precisamos nos
libertar de nossa “linguagem”, de raízes culturais, costumes e de tantas outras
coisas de nossa realidade, que impedem nosso renascimento e abertura para o
novo que vem do outro. Como a águia, que se transforma para ter mais vida, é
alimentada por outras águias, assim o missionário precisa, sobretudo, comer e
beber da cultura, da vida do povo onde vai servir. Isto se chama de processo de
inculturação. Processo lento, mas fundamental, para o trabalho de
evangelização.
Iniciamos
a nossa missão em Moçambique com 4 missionários xaverianos sendo eu um deles.
Atualmente são 9 missionários xaverianos atuando em quatro comunidades: Dondo,
Chemba, Sena e Charre num vasto território na arquidiocese da Beira e Tete, onde mais ou menos 10% da
população são católicos. Muitas são as necessidades, sobretudo nos campos da
educação, da saúde, da reconstrução das estruturas básicas, nas quais
colaboramos. Nosso trabalho específico, porém, é a Evangelização.
Pe. João Bortoloci em comunidade africana
1 – Primeiro anúncio: Gastamos nossa vida em uma localidade onde poucos, ou
quase ninguém, investem. É uma realidade de não-cristãos e de pobreza.
Moçambique encontra-se entre os oito países mais pobres do mundo. Somos felizes
por estar no meio desta gente e, sobretudo, ao ver que nosso trabalho
evangelizador não é em vão: milhares de pessoas, entre adolescentes, jovens e
adultos, entraram e continuam entrando no catecumenato, em preparação ao
batismo. A catequese é um processo de aprendizagem e de vivência que dura 4
anos.
2 – As novas comunidades: Depois de um acompanhamento no catecumenato, procuramos
animar as comunidades já existentes, da mesma forma como somos animados pela
fé, acolhida, alegria e pelo compromisso missionário. Muitas são também as
comunidades nascentes, algumas até sem a presença de nenhum cristão. Ainda não
chegamos em muitas localidades, devido à distância e falta de estradas. Porém,
nada é empecilho. Nas comunidades, há o ministério missionário Nyakokota
(pescador), com o objetivo de não deixar ninguém sem ouvir a Palavra de Deus.
Há também a experiência das comunidades missionárias, que fundam ou acompanham
comunidades nascentes. Gostaríamos de frisar que a resistência na fé, vivida e
celebrada em meio a tantos sofrimentos, por tantos cristãos moçambicanos, nos
tempos de guerra, hoje é semente de novos cristãos e novas comunidades cristãs.
3 – Lideranças: Em Moçambique, a Igreja está estruturada em paróquias ou
“Missões”, descentralizadas em comunidades e, em alguns lugares, em núcleos. Os
ministérios leigos são uma benção de Deus para as comunidades. O grande desafio
é a formação de tantas lideranças. Só no campo da catequese é preciso “fazer das tripas o coração” para colaborar na
formação dos catequistas e dar certo acompanhamento aos catecúmenos. Na missão
onde eu trabalhei por 10 anos , quando saí havia mais de 200 catequistas e
milhares de catecúmenos. Reunir todos os envolvidos nos vários ministérios era
quase impossível. São programados muitos encontros de formação como exigência
fundamental para a vida das comunidades.
É
uma Igreja pobre, dependente economicamente do exterior e em reconstrução de
suas estruturas básicas, pois boa parte delas ainda está nacionalizada. Esteve
sempre ao lado do povo, sobretudo nos momentos difíceis da guerra, em que teve
significativo papel para a mediação da paz.
É
uma Igreja pobre em poder, porém se impõe com voz profética em defesa dos
direitos humanos e na conscientização do povo. Apesar da sua pobreza, assumiu
gestos bonitos de solidariedade, especialmente durante as catástrofes. É uma
Igreja que aposta na educação e que vive um momento florescente de despertar
vocacional. Como xaverianos, colaboramos diretamente na formação do clero
local.
Vocações
xaverianas poderão ser pensadas no futuro. É uma Igreja com mais de 30 etnias,cada
uma com a sua língua, e com a presença
de muitas religiões. Só na paróquia Santa Ana na cidade de Dondo onde trabalhei
havia a presença de 122 religiões.
Enfim, é uma Igreja que começa a se abrir para a dimensão missionária. O Sínodo Africano afirmou: “A
Igreja da África não é chamada a testemunhar Jesus Cristo somente no continente
africano: a ela também é dirigida a palavra de Cristo Ressuscitado: ‘Sereis
minhas testemunhas até os confins da terra’” (At. 1,8 v. 125).
Depois
de 10 anos em Moçambique, “RENASCER” se apresenta para mim como um grande
desafio.
Por isso, é preciso entrar:
Pe. João Bortoloci em Igreja africana
– no Ventre
da Solidariedade, pois a missão precisa de missionários capazes
de compaixão pelo outro, pelos empobrecidos, sendo sinal de esperança e de
vida;
–
no Ventre da Espiritualidade,
pois a missão precisa de missionários comunicadores de Deus, capazes de
contemplar o rosto de Cristo no rosto sofrido do povo, testemunhando a presença
de um Deus que ama;
–
no Ventre do Diálogo,
pois a missão precisa de missionários capazes de viver a comunhão na
diversidade de povos, raças, culturas e religiões, testemunhando fraternidade e
paz;
–
no Ventre da Ousadia,
pois a missão precisa de missionários profetas, resistentes, capazes de sonhar
que um mundo novo é possível, a partir da própria realidade onde se vive. Que
naquele poço há “água viva”;
–
no Ventre da Paixão,
pois a missão precisa de missionários apaixonados pela causa da Evangelização,
capazes de doarem a própria vida, para que todos os povos possam conhecer e
viver com prazer o projeto do Reino de Deus.
Vídeo 1 - Relato em Comunidade de Moçambique
Vídeo 2 - Relato em Comunidade de Moçambique
Galeria - Fotos de Moçambique
Padre João: tenho grande orgulho em conhecê-lo e em poder partilhar um pouquinho do seu carisma que anima e conduz... Parabéns pelo maravilhoso trabalho que fez na África!!!!
ResponderExcluirO relato-testemunho do João é simplesmente significativo, carregado de realismo, profundidade, afetividade, profetismo e poesia... muito interessante mesmo! É aquilo que o nosso profeta-poeta Paulo Freire chama de "boniteza".
ResponderExcluirA presença xaveriana no Moçambique tem sido uma grande benção para a Igreja local, sobretudo pela proposta que o João tão bem apresentou: respeito à caminhada e história do povo moçambicano, solidariedade à toda prova à Igreja local e suporte à evangelização que tem nos ministérios leigos uma grande força.
O chamamento à comparação com a história da águia é muito bonita. Parabéns João, o teu testemunho profético nos faz reviver o nosso compromisso batismal que é também missionário!
Luiz carlos Frederick