Na íntegra, o testemunho recebido do padre Ivanildo Quaresma, xaveriano brasileiro de Abaetetuba/PA, ordenado em 2016 sobre sua experiência na ocasião da Páscoa na Espanha e Marrocos.
Páscoa Missionária: ninguém é estrangeiro na comunidade cristã!
Esta páscoa foi diferente de todas as outras que eu tinha vivido até então, porque vivenciei em Ceuta (Espanha) e Tetuan (Marrocos), com os imigrantes. Éramos mais ou menos 50 pessoas. Foi um presente de Deus. É Ele que nos pede “Sai da tua Terra” (Gn 12, 1). Como sempre, Deus me surpreendendo. E dessa vez, me permitiu descobri-lo em nossos irmãos africanos.
Viver o tríduo pascal junto aos imigrantes, e entre eles alguns muçulmanos, me possibilitou ver o rosto de Cristo neles, nos seus sofrimentos, nas suas cruzes. Também na alegria, na fé e esperança que eles têm em Deus. Tudo em clima de amor e fraternidade, espaço onde as diferentes crenças religiosas não são motivo de disputas ou rivalidades, mas, são sim um vínculo especial entre as pessoas.
Vivi a Semana Santa de maneira intensa, cheia de significados. Senti forte a presença misericordiosa e amorosa de Jesus junto a esses jovens imigrantes. Tal sentimento deve-se ao fato de passar esse evento importantíssimo com eles, conhecendo de perto e melhor a realidade da imigração, as dificuldades que passam para chegar à Europa, movidos pelo sonho de construir uma vida melhor. Isso tudo me tocou muito!
Tocou porque a maioria eram jovens que deixaram casa, família, amigos, e arriscaram atravessar o deserto para chegar à Espanha. Um deles contou que passou cinco dias no deserto, sem beber água. Outro disse que perdeu seu irmão enquanto estava atravessando, porque ele não aguentou a fome.

Foi um exemplo de vida para mim, para nós, que diante de pequenas dificuldades pensamos logo que Deus tenha nos abandonados. A história destes (de luta e esperança) contagiou meu coração, animou meu espírito missionário. Minha atitude frente a tudo que ouvi, foi agradecer a Deus pelo testemunho vivo dado por eles, que abriu minha mente e o meu coração para esta realidade da imigração, até então um pouco distante do meu cotidiano.
Aproveitei para estar com eles, conversar, rezar juntos. Foram momentos maravilhosos. Apesar da dificuldade com o francês e o árabe, consegui me comunicar um pouco com o espanhol, que também ainda estou aprendendo. Acentuo, porém, que a comunicação entre nós se deu pela língua universal que une a todos: o AMOR. Este é o idioma do coração que nos possibilita comunicar com o olhar, com o sorriso, com os gestos. Não pode haver barreiras quando a intenção é fazer o bem. Me senti em família no meio deles.

Concelebrar a páscoa da Ressurreição com os irmãos Franciscanos de Tetuam, em Marrocos, localizado a uns 45 minutos da cidade de Ceuta, Espanha, me permitiu ver a presença de uma Igreja pequena, humilde, alegre e aberta. Que anuncia o evangelho sem necessidades de palavras. Mesmo porque nesse lugar, não se pode evangelizar explicitamente, mas, por meio do testemunho de ajuda aos necessitados.
O Senhor por meio do nosso fundador, São Guido Maria Conforti, inspirou um carisma missionário com o lema “Fazer do mundo uma só família em cristo”. Nessa páscoa missionária vivi e constatei que esse sonho já é uma realidade. Percebi isso de maneira especial no domingo, quando concelebrei a missa de páscoa em Marrocos, um país de religião totalmente muçulmana. Para mim, o significado foi especial, missionário e universal.

Viver a ressurreição em terra islã me ajudou a compreender melhor que Cristo morreu e ressuscitou por todos, por toda a humanidade. Também pelos nossos irmãos muçulmanos e para todo aquele que ainda não o conhece. Voltei assim a redescobrir Deus que sempre sai ao nosso encontro, que nos antecede com o seu olhar misericordioso e amoroso. Ele me deu uma lição de amor, de solidariedade, de esperança e fraternidade. Uma chamada à sair da minha terra, do meu pequeno mundo, e ir compartilhar do seu amor com os outros, sobretudo, aqueles que ainda não ouviram falar Dele.
O contexto me ajudou a entender melhor a expressão bíblica do evangelista São João 12, 32 “E, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim”. E não foi diferente! Passar a páscoa em Marrocos teve esse significado. Todos fomos atraídos pelo amor de Jesus Cristo. Ele não nos deu um objeto ou uma palavra, nos deu tudo.
Sou muito grato a Deus por tudo que está acontecendo e me possibilitando ver e ouvir nesse início de missão na Espanha. Poder viver a páscoa junto aos nossos irmãos imigrantes e muçulmanos nesse começo de missão, é para mim um dom de Deus.
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