quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Vaticano II: o termo que se faz divisor de águas chama-se hermenêutica

Para João Batista Libânio, por meio do Concílio Vaticano II a Igreja católica lançou o olhar para dentro de si e para o mundo moderno

Por: Graziela Wolfart e Luis Carlos Dalla Rosa

Em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, João Batista Libânio analisa, da seguinte forma, a atualidade e as perspectivas do Concílio Vaticano II após 50 anos de sua realização: “a face maior da Igreja modificou-se profundamente. Entrou espírito de liberdade diante de imposições externas, de leis extrínsecas. O fiel fez-se consciente e responsável no que diz respeito à Igreja institucional e deixou de ser simples súdito obediente. A vida litúrgica prossegue, embora mais lentamente, a caminhada de resposta às novas situações. A fé adquiriu maior clareza em face da Religião como instituição e expressão crítica diante da pluralidade estonteante de práticas religiosas. No entanto, a perda de clareza das referências objetivas por causa da irrupção no seio da Igreja do espírito de criatividade, liberdade e autonomia das pessoas, tem produzido reações conservadoras em busca de segurança. Aí se trava um dos combates duros do momento. Avançar com os riscos ou fixar-se em parâmetros objetivos, claros, mesmo que os tenha de buscar no passado. O termo que se faz divisor de águas chama-se hermenêutica. Para uns, faz-se o único caminho possível diante da descoberta da autonomia dos sujeitos e da rápida transformação social e cultural. Para outros, identifica-se tal caminhada com o famigerado relativismo, a ser, portanto, rejeitado. Entre relativismo a pedir reafirmação da objetividade dos ensinamentos e das práticas e a hermenêutica que introduz a fluidez das contínuas novas posições: eis o duelo maior do momento em termos teóricos. E o reflexo na prática chama-se ortodoxia, fundamentalismo, conservadorismo, de um lado, e, de outro, cisma branco, cisma silencioso, prescindência, liberdade em assumir os elementos doutrinais, morais e institucionais correspondentes à experiência das pessoas”.
João Batista Libânio é padre jesuíta, escritor, filósofo e teólogo. É também mestre e doutor em Teologia, pela Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG, de Roma. Atualmente leciona na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE e é membro do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. É autor de diversos livros, dentre os quais destacamos Teologia da revelação a partir da modernidade (Loyola, 2005) e Qual o futuro do cristianismo (Paulus, 2008). Com Comblin e outros, é autor de Vaticano II: 40 anos depois (Paulus, 2005). Seu livro mais recente é A escola da liberdade: subsídios para meditar (Loyola, 2011).

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