terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Memória da Roça

Artigo do nosso amigo leigo João Diniz Sobrinho, de Ourinhos/SP

 Escrever sobre este assunto é recordar o passado de muita gente que está
morando na cidade. Afinal, a origem do povo brasileiro é rural. Por falta de uma
política agrícola e com o avanço dos grandes ruralistas a roça se esvaziou tanto que
atualmente são poucas as pequenas propriedades que sobrevivem em algumas
regiões. Sabe-se que por natureza, o homem do campo, sem estresse, tem uma
sabedoria popular, pois desde o amanhecer ao por do sol, o contato com a natureza
não tem preço. Na roça, logo pela manhã, ouve-se o cantar dos pássaros, do galo, o
mugir das vacas e dos bezerros no curral. Antes mesmo do sol nascer o fogão de lenha
é aceso e em seguida o café com aquele aroma que somente o homem do campo sabe
apreciar. Ainda pela manhã, tratar dos porcos, das galinhas era uma rotina e milho no
paiol não faltava.
 O período que antecede o Natal, era esperado de uma forma mágica sem aquela
preocupação com o consumo exagerado. Logo na primeira semana de dezembro as
famílias procuravam montar o tradicional presépio do menino Jesus. Assim como, as
festas do padroeiro na capela do bairro rural com a tradicional procissão, as batidas do
sino, rojões, e encerrava com o leilão de prendas.
 Outro registro que ficou na memória são as quatro estações do ano vivenciadas
pelo homem do campo, principalmente as estações; outono e verão, muita fruta,
jogar bola, cavalgar, caçar de estilingue, pescar, brincar de balanço na árvore e brincar
no rio. Isso sem falar dos dias chuvosos na roça, sempre com novidades; bolinhos
de chuva, estourar pipoca, jogar baralho, etc. Durante o anoitecer, o que chamava
atenção do homem do campo eram as estrelas e a lua cheia. As estrelas incontáveis
que brilham no céu, o cruzeiro do sul e a estrela Dalva eram observados por todos. Nas
noites de lua cheia sentados em uma cadeira ou banco de madeira, enquanto contava
causos, a família admirava por um bom tempo a beleza da lua. Evidentemente,
somente quem passa por essa experiência sabe o quanto é mágico a vida no campo, o
contato direto com a natureza e que nunca se apaga da memória.
 Em contra partida, na cidade, ouve-se também cantorias de pássaros, porém
tristes, afinal o mundo deles é o da liberdade. Já o homem urbano que reside um
próximo do outro, porém distante do seu semelhante, o que se vê logo pela manhã é
uma multidão apressada e correndo contra o tempo para chegar ao trabalho. Quando
chega a noite, não contempla a lua cheia e nem as estrelas que brilham no céu,
está sempre preso em uma tela, ora da TV, ora do computador. Um homem urbano
estressado, sem memória e sem história pra contar.

Ourinhos, Dezembro de 2013
João Diniz Sobrinho

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