segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

CAMPANHA DA FRATENIDADE 2018



Texto elaborado por Pe Rafael Lopez Villasenor
OBJETIVO GERAL: Construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho da superação da violência.
  1. VER: DIVERSAS FORMAS DE VIOLÊNCIA
Existem múltiplas formas de violência que não se resumem apenas a atos, mas também estruturas violentas. Portanto, para superar a violência não será possível sem uma ampla participação da sociedade organizada.
Apesar do Brasil possuir menos de 3% da população mundial, responde por quase 13% dos assassinatos no planeta, cinco pessoas são mortas por arma de fogo a cada hora. Acontecem mais homicídios no Brasil, que em diversas guerras. São constantes sequestros, estupros, assaltos, homicídios…
Três fatores são fundamentais para definir os espaços de paz e violência: 1º a omissão do poder público nas periferias, onde toma lugar grupos armados, tráfico de drogas… 2º o poder do dinheiro, isso é, quem pode, paga por segurança privada e bons advogados. 3º o tratamento seletivo pelos órgãos públicos, dos três poderes em relação aos direitos e ao acesso à Justiça. Inclusive, existe uma violência institucional que cria crises econômicas, inflação corrosão dos salários, que trazem perda do poder aquisitivo para os mais pobres aumentando a desigualdade social. A violência direta e estrutural é mais fácil ser identificada.
Existe a cultura da violência, entendida através das condições em que a sociedade não reconhece como violência atos ou situações em que pessoas são agredidas, fazendo a justificativa, como se uma ação violenta fosse devida, à própria conduta da pessoa que a sofre. Ex. o estupro da mulher, a violência contra homossexuais…
A violência no Brasil vem desde o período colonial, pois acreditava-se que o branco era superior ao índio e ao negro. Na República foi instalada apenas uma igualdade formal e legal pela elite econômica, política e jurídica. Mas até hoje, o país é desigual e violento, em especial para quem trabalha em favor da igualdade dos direitos dos pobres.
O modo violento como se vive hoje, busca manter os privilégios das elites e da classe política, que perpetuam as estruturas geradoras de violência. Inclusive, a corrupção manifesta que o dinheiro está em primeiro lugar, o bem das pessoas e o bem público em segundo. A corrupção leva ao descrédito das instituições. As “reformas” encaminhadas pelo governo federal dão apenas importância ao mercado e a elite, mas acabam com os direitos das pessoas mais pobres e vulneráveis.
Os últimos anos se criminalizam os movimentos sociais e populares que têm pontos de vista diversos às propostas dos poderosos e do sistema econômico. O Estado é cúmplice da violência contra indígenas, quilombolas, sem-terra e ambientalistas.
A violência é resultante da desigualdade econômica. Ao gerar exclusão e perpetuar as desigualdades sociais, a economia produz violência e morte. Apenas 62 pessoas detêm o mesmo dinheiro que a metade mais pobre da humanidade. Os mais ricos são 1% da humanidade, mas detêm 99% da riqueza mundial, portanto a desigualdade gera violência e injustiça social que traz consigo a morte e a exclusão.
A violência racial contra negros, índios, migrantes e imigrantes se dá através do desrespeito, do ódio e da xenofobia (medo da pessoa diferente). Nos últimos anos houve uma diminuição de 26% dos homicídios de brancos com arma de fogo e um aumento de 46,9 % de negros. Entre os jovens de 15 a 24 anos, a maioria das mortes são causadas por homicídios, principalmente entre os negros. As vítimas de homicídio são na maioria homens, mas existe a tendência a crescimento entre mulheres, especialmente negras.
Todavia, 27% das mulheres assassinadas têm o agressor em casa, enquanto que 48% dos assassinatos dos homens está na rua. Em 2015 o Brasil registrou mais de quarenta e cinco mil casos de estupro, contudo se acredita que sejam muitos mais. A violência contra a mulher acontece principalmente dentro de casa. As agressões domesticas, na maioria dos casos, são praticados pelo parceiro ou ex-parceiro da vítima. A agressão contra a mulher é um dos casos da cultura de violência com baixa punição.
Segundo a UNO (Organização das Nações Unidas) a pobreza é a causa da violência, que origina mais mortes no mundo. A pobreza e a desigualdade social prejudicam seriamente a saúde e o desenvolvimento das crianças desde antes do nascimento. Toda criança necessita de apoio incondicional na primeira infância.
O tráfico de pessoas é uma das formas mais violentas de exploração, trata-se de uma modalidade de crime organizado transnacional, atrelado a exploração sexual, ao comércio de órgãos, a pornografia infantil, as formas ilegais de imigração para a exploração do trabalho análogas à escravidão. 75% são mulheres. Também a violência no campo teve um aumento de assassinatos, ameaças de morte, agressões, etc. sendo as maiores vítimas os quilombolas e os indígenas, vítimas da invasões e devastação de terras demarcadas por parte dos poderosos.
No Brasil há entre 20 e 30 milhões de viciados em álcool e 870 mil dependentes de cocaína. Levando lentamente para a morte. Existe por parte dos governos nacionais e internacionais um esforço para o combate às drogas, mas falta uma maior atenção para o combate a produção e distribuição.
No Brasil tem uma das maiores populações do mundo de presos, (650 mil), vivendo em condições degradantes e sub-humanas, gerenciando organizações criminosas que controlam a criminalidade dentro e fora dos presídios.
A polícia que deveria ajudar na superação da violência, muitas vezes, é violenta e corrupta, cria desconfiança e ambiguidade da corporação. Ela teria o papel da mediação dos conflitos, da democracia, sendo responsável pela preservação da vida e da segurança pública. Mas nem sempre os policiais cumprem de maneira adequada a sua missão, inclusive muitos deles são assassinados dentro ou fora do serviço, as vezes envolvidos em corrupção.
No Brasil a informação por parte da mídia acaba sendo desvirtuada, seletiva e parcial, criando uma sociedade da desinformação e do espetáculo, a partir dos fatos, desinformando os verdadeiros acontecimentos.
Existe no país intolerância e fanatismo religioso, que se concretizam no desrespeito à liberdade, no preconceito, no fanatismo e na demonização das religiões, especialmente de matriz africana.
A violência no trânsito é causada, muitas vezes, por dirigir alcoolizado (30% das mortes do trânsito), por trafegar em alta velocidade, por falta de atenção e/ou pela manutenção do veículo.

  1. JUGAR: A BÍBLIA E O MAGISTÉRIO ECLESIAL
Os textos do AT que fazem referência a um Deus violento devem ser lidos no contexto originário. Toda violência é contrária ao desejo e projeto Divino. A violência na história da humanidade é sinal da ausência de Deus.
Na criação Deus fez a humanidade a sua Imagem e semelhança (Gn 1,26-27). A violência vem depois, que aparece o pecado, como o assassinato de Abel pelo irmão Caim (Gn 4,1-16), mas Deus pune o violento (Gn 4, 19-24). Portanto, a violência é consequência do pecado e desfigura a humanidade.
Para punir atos violentos, na Bíblia surgem leis que proíbem assassinato (Ex 20,13; Dt 5,17). Se exige a justiça social (Sl 85,10). A lei do talião procurou estabelecer, o limite da vingança (Ex 21,24; Lv 24,20). Era proibido oprimir o estrangeiro (Ex 23,9), guardar ódio (Lv 19,17), e se vingar (Lv 19,18).
Até, os profetas sofrem violência e perseguição (Jr 26; 1Rs19,2; Am 7,10-17). Eles são unanimes em denunciar o sistema de morte e violência (Am 5,24; Mq 6,8; Is 58,6-7; Jr 7,3-5; Os 4,1-2;). Defendem os pobres e oprimidos (Is 1,16-17; Am 3,9-10).
Os livros sapienciais excluem qualquer uso da violência (Pr 3,29-32; 4,14; 13,2; Lm 3; Sl 7,2-3; 10, 7-8; 27,12). Mostram um Deus misericordioso (Es 34,6; Nm14,18; Gn 4,2; Ne 9, 17).
Jesus anuncia a Boa Nova de reconciliação e de Paz, embora a tentação da violência está nos discípulos (Lc 9,54-55; Lc 22,38; Mc 14,47; Jo 18, 8.11). Prega amor aos inimigos (Mt 5,44; Lc 6,27). Anuncia a perfeição e a misericórdia (Mt 5,38-42; 5,43-48; Lc 6,35). Defende a mulher surpreendida em adultério (Jo 8,3-11). Jesus é sempre é a favor da Vida (Jo 10,10) e da paz (Mt 5,9; 10,12; Jo 14,27). Para Ele a violência brota do coração do homem (Mc 7,14-15.21-23; Mt 5,44), e Ele mesmo oferece o perdão na cruz (Lc 23,34).
A Igreja convida a promover a cultura do diálogo que supere a violência. João XXIII publicou a encíclica (1963) Pacem in Terris que denuncia a violência e convida a todos os homens de boa vontade a trabalhar pela paz e a justiça. O Concílio Vaticano II em Gaudium Spes pede a edificação da paz e a eliminação das discórdias. Após o Concílio Vaticano II, Paulo VI veio instituir o dia Mundial da Paz em 01 de janeiro de cada ano com o objetivo de superar a violência. João Paulo II se encontrou com líderes religiosos em Assis (Itália) para promover a paz e o diálogo entre as religiões.

  1. AGIR: AÇÕES PARA SUPERAR A VIOLÊNCIA
A superação da violência nasce com a boa relação com os outros. Ninguém nasce violento, mas pode vir a ser violento. Todos desejamos a paz, muitas pessoas a constroem com pequenos gestos. Pequenos e cotidianos gestos são necessários para a construção de um mundo novo, sem violência. Portanto, a superação da violência pede o compromisso da sociedade civil, das igrejas e dos poderes constituídos para assegurar o cumprimento dos direitos humanos e de políticas públicas emancipatórias.
A família deve promover e formar para a cultura da paz e da não violência. Precisamos estimular a cultura da tolerância, do respeito, do diálogo e da paz, nas práticas cotidianas e redes sociais. Não somos adversários, mas irmãos. Três ações devemos observar na construção da cultura da paz: fraternidade, ternura e compaixão.
Nunca pagar o mal com o mal, renunciando a todo forma de violência, vivendo a solidariedade e a misericórdia nas nossas ações. Desenvolver a capacidade do diálogo diante dos conflitos. De maneira especial trabalhar pela superação da violência doméstica e familiar.
Trabalhar pela justiça restaurativa consigo mesmo, com a família e com a sociedade. Articular momentos de oração através do ecumenismo e do diálogo inter-religioso. Ser solidários com as vítimas da violência da sociedade.
A superação da violência no sistema capitalista que busca o lucro econômico e não o ser humano é um desafio. A pobreza e a fome é uma das piores formas de violência. É necessário o cumprimento do estatuto da Criança e Adolescente que garanta os direitos fundamentais e básicos. Denunciar todo tipo de violência sexual contra crianças e adolescentes, promovendo parcerias com os Conselhos Tutelares.
Lutar contar contra a violência doméstica, familiar e da mulher aplicando a lei Maria da Penha. Lutar contra toda forma de violência e apoiar a defesa dos direitos humanos. Erradicar o analfabetismo, o trabalho escravo, o tráfico de pessoas e órgãos.
Apoiar a luta e demarcação dos povos Indígenas, estimulando a Reforma Agrária, defendendo a ecologia, as florestas e recursos naturais. Acompanhar os usuários de drogas, denunciando a criminalidade e tráfico de drogas, fortalecendo a Pastoral da sobriedade.

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