quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Oração pela paz do mundo!

Pe Adriano Cunha Lima (desde Chade-África)
No domingo 4 de fevereiro, durante o Angelus, o Papa Francisco convidou todos os cristãos e homens de boa vontade a dedicar o próximo dia 23 como uma jornada especial de oração e jejum pela paz no mundo, sobretudo na República Democrática do Congo e no Sudão do Sul.
adriano
Um novo convite à oração. Diante alguns problemas enormes o Papa insiste em rezar. Essa não foi a primeira vez, desde o primeiro dia do seu pontificado ele se confia constantemente às orações do povo e promete inúmeras vezes suas orações. Ele propõe jornadas de oração, como aquela organizada em setembro de 2013 pela paz na Síria, a de 2016 pelas vítimas de abuso sexual, sem esquecer as “24 horas para o Senhor” que iluminam nossas quaresmas desde 2014.
Longe de ser uma resposta desencarnada, rezar pelos outros torna presente a vivência dos dois mandamentos. A oração é prova de amor e confiança em Deus e gesto primeiro de caridade pelo próximo. O mundo parece ter respostas para tudo, essa autossuficiência distancia o homem de Deus, e mais do que isso, distancia o homem do caminho de vida nova que vem de Deus. Nos tornamos amargos, mesquinhos, indiferentes, cheios de razão. Aceitamos e encorajamos leituras e soluções para problemas das nossas vidas e da sociedade que não são evangélicas. A oração amolece nossos corações revelando nossa pequenez e se torna força porque deixa espaço para que o Senhor conduza nossas vidas. A humildade da oração faz com que sejamos eternos discípulos do Mestre que, todos os dias, “torna nova todas as coisas”.

Rezar por irmãos que sofrem a quilômetros da nossa “terrinha” é declarar guerra à indiferença. Rezando, a vida do outro tem valor para mim, eu o amo como irmão e aprendo olhar cada pessoa como um filho amado de Deus, e sonhar para cada uma delas o sonho de Deus. Infelizmente no Brasil, num país “católico”, estamos perdendo a graça da fraternidade universal, basta ver nossas intervenções na internet, quantos insultos, quanta falta de paciência e quanto julgamento. Precisamos de uma conversão enorme neste sentido. É o amor para com o próximo que distingue o discípulo de Jesus (cf. Jo 13,35). Nos convidando a rezar pelos nossos irmãos congoleses e sudaneses o papa nos arranca do nosso egocentrismo, e faz de nós melhores cristãos, mais parecidos com o Senhor.
A República Democrática do Congo, antigo Zaire, é um dos 54 países do Continente Africano. Colônia Belga durante quase cem anos, o gigante africano (segundo maior país do continente) rico em minérios, sempre foi visto como uma terra a ser explorada. Ele foi vítima da ganância dos países ricos e dos seus próprios dirigentes, conheceu uma colonização selvagem, a ditadura de Mobutu e as consequências violentas da guerra do Ruanda, a violência dos insaciados do seu ouro, diamante, cobre e cobalto e ultimamente a ditadura do Presidente Kabila (no poder desde 2003). Apesar de tudo, o povo congolês é alegre, forte e dinâmico, nunca cruzou os braços frente à injustiça. As comunidades cristãs são numerosas, fontes de vocações à vida sacerdotal e religiosa, e já provaram várias vezes sua coragem até o martírio. Nestes últimos dias, o Cardeal Monsenguwo se tornou a grande voz contra a ditadura do presidente Kabila, sua audácia alimenta a força do povo que busca com esperança uma mudança pacífica no país. Infelizmente a repressão contra os manifestantes é grande. Desaparecidos, mortos e feridos pintam o quadro de um país onde as autoridades esqueceram que elas estão à serviço de uma nação que só busca viver melhor.
africa_subsaariana
A situação na República do Sudão do Sul não é tão diferente. O mais jovem país africano, que ganhou sua independência do Sudão em 2011, vive atualmente uma guerra civil entre os defensores do presidente Salva Kiir e os do vice-presidente, hoje fugitivo político, Riek Machar. Os resultados são assustadores, de 50 a 300 mil possíveis mortes, quase 1 milhão de refugiados em países vizinhos e aproximativamente 15 mil crianças-soldados. Várias paróquias deixaram de ter uma vida normal, pois muitos padres e irmãs nãos moram mais nos vilarejos, por segurança eles são obrigados a viver na cúria diocesana e visitar quando possível as comunidades. É do Sudão do Sul que vem a Santa Josefina Bakhita, é o no Sudão que São Daniel Comboni, fundador dos missionários combonianos, exerceu seu ministério episcopal. Do Congo vem dois bem-aventurados e mártires, Clementina Anuarite e Isidore Bakanja. Que essas terras tocadas por Deus possam se tornar um lugar de paz, desenvolvimento e justiça para todos. Que a coragem dos cristãos destes dois países possa reacender a chama da fraternidade universal entre nós cristãos brasileiros.
Por fim, peço orações pelo país onde vivo, o Chade. Um outro país africano que passa por um momento difícil de crise financeira e política. Todos os funcionários do estado, professores, médicos, enfermeiros, entraram em uma greve geral e paralisaram o país. Eles esperam receber os salários atrasados. As manifestações foram proibidas, a repressão aumenta e já constatamos inúmeras prisões contestáveis. As escolas estão fechadas e nossos jovens perdem a esperança. Contamos com vossas orações.
Que Deus abençoe cada um de vocês que se dedicarão com fé e coragem nesta jornada do dia 23 de fevereiro. A presença de Deus transformará os corações dos que rezam e tocará os corações dos homens poderosos que criam tanto sofrimento na vida dos pequenos. Um grande abraço e boa caminhada rumo à festa da Ressurreição.
Pe Adriano (Tillã), missionário xaveriano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ser leigo na Igreja hoje

De um modo geral, as pessoas podem entender (ou achar) que todos aqueles que participam de uma maneira ou outra da Igreja ou de alguma comun...